Depoimentos indicam suposto pagamento de “mesadas” a secretários e empresas e lavagem de dinheiro
ALESSANDRA SANTOS - SANTA BÁRBARA D’OESTE
Denúncias contra a Prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste, que levaram o Ministério Público a realizar uma varredura no Paço Municipal, apontam pagamento de propina por empresas, lavagem de dinheiro por parte do prefeito Mario Heins (PDT) para arrendamento de fazendas, compra de gado em São Félix do Araguaia (MT), patrocínio da festa de rodeio de 2009 e o financiamento da campanha de sua mulher, Karen Heins, que candidatou-se a deputada federal este ano.
As acusações constam em depoimentos prestados ao promotor de Justiça, Hélio Jorge Gonçalves de Carvalho, no inquérito civil que apura supostas fraudes em licitações e contratos.
No documento, que o TodoDia teve acesso ontem, o vice-prefeito Luis Vanderlei Larguesa acusa os secretários Ana Leone Paiva, Luís José Sartori, Mauro Rontani, Gilmar José Margato e o diretor superintendente do DAE (Departamento de Água e Esgoto), Kênio de Freitas, de receberem complementação salarial de R$ 5 mil mensais, não contabilizadas no holerite. O “mensalinho” seria um benefício ao grupo que atua com o chefe do Executivo.
Padrinho de casamento de Heins, Osvaldo Paz Domingues iniciou as denúncias no MP. Em 28 de setembro, ele relatou ao promotor que atuava como tesoureiro da campanha de Karen e, por isso, poderia afirmar que houve doações ilícitas. Além disso, Domingues afirma que o prefeito comprou 3,5 mil cabeças de gado entre janeiro e maio deste ano, no valor de R$ 2,5 milhões.
Maraiza Domingues, filha de Osvaldo, também prestou depoimento, confirmou o desvio e admitiu um esquema de pagamento de propina. Mais de 20 empresas seriam responsáveis por pagar mensalmente valores após terem sido beneficiadas com os contratos de licitação. “No início não sabia o que havia em tais envelopes, mas com o tempo a secretária Ana Leone pegou confiança em mim e abriu o jogo. No início, ela pedia para eu ligar para quem estivesse com o pagamento da propina atrasado.”
Um exemplo citado por Maraiza é a Real Food Alimentação, que possui contrato de R$ 9,7 milhões para servir refeições aos servidores municipais diretos e indiretos, por dois anos, e pagaria R$ 90 mil mensais de propina.
De acordo com o vice-prefeito, Ana Leone é a responsável pelo gerenciamento do esquema de propina. Rontani teria a função de providenciar a juridicidade às licitações vencidas pelas empresas “amigas” do prefeito, como a Forty Construções e Engenharia. Kênio é tido como um homem de confiança de Heins.
O secretário de Educação, Herb Carlini, também estaria envolvido no esquema, mas foi retirado após constatação de “fraude”. “Eu ouvi a Ana Leone e o Paulo D’Elboux dizendo que o Herb Carlini estava passando a perna no prefeito em relação aos contratos. Com isso, a administração de todos os contratos ficou centralizada com Ana Leone”, afirmou Larguesa.
Procurada pelo TodoDia, a prefeitura informou por meio da assessoria de imprensa que tanto os secretários citados quanto o prefeito não se manifestariam sobre o caso. As empresas acusadas foram procuradas pelo TodoDia, mas não houve retorno.,
Fonte: Jornal TodoDia - 29 de dezembro de 2010 - Página "Cidades"